segunda-feira, novembro 29, 2004

Esta semana:

Semisonic - Feeling Strangely Fine (1998)



São poucas as pessoas que conhecem o Semisonic. Na verdade, essa banda é daquele tipo que quando você pergunta sobre, ninguém ouviu falar, mas quando mostra uma música ou outra consegue respostas como "ah, conheço sim", "sim, essa música, lembro sim", etc. Esse tipo de coisa é conseqüência direta dessa mania "one hit wonder" criada pelas Mtvs mundo à fora, e quem paga por isso são bandas como o Semisonic, que são reconhecidas por essa ou aquela música.

Mas como aqui no Maquinário nós gostamos do trabalho do artista como um todo, "Feeling strangely fine", de 1998, foi o disco que acabou projetando a banda formada em 1995, por Dan Wilson (Voz e Guitarra), John Munson (Baixo) - ambos da extinta banda Trip Shakespeare - e Jacob Slichter (bateria). Antes de "Feeling..." o grupo havia lançado o Ep Pleasure em 1995 e Great Divide em 1996, e mesmo passando quase desapercebidos, nos dois albuns já é possível perceber a carga pop que marca o mais, digamos, famoso disco da banda.

Para que alguém pouco informado reconheça o Semisonic não pelo nome, mas através das músicas, as mais indicadas seriam "Closing Time" e "Secret Smile", pois não é preciso forçar muito a memória para lembrar como essas músicas tocaram nas rádios. E como disse lá no começo, é por fatos como esses que bons discos ficam na sombra de músicas que nem sempre mostram o artista por inteiro. Talvez seja exagero colocar o Semisonic nessa lista, pois essas duas músicas já dão uma boa amostra do que é a banda, mas justiça seja feita: "Feeling strangely fine" é um disco de boas músicas.

Lançando mão de melodias e arranjos e letras mais do que pop, o disco não chega a surpreender ninguém, mas é um prato cheio para quem gosta de músicas assim. "Singing in my sleep", "This will be my year", "Completely Pleased" e "All Worked out" poderiam ser colocadas ao lado de "Closing time", onde a banda mostra um lado mais energético de seu som. Quando chegam as baladas mais trabalhadas, com violões e arranjos de cordas, músicas como "Made to last", "DND" e "She spreads her wings" podem emocionar mais do que "Secret Smile".

Seguindo ainda a linha das baladas, e fechando o disco, está "Gone to the movies", se não a melhor, umas das melhores faixas do disco. Apenas um violão dedilhado leva a música que se desenvolve em cenários como "Now the rain turns into snowfall as the City sky reflects the silver street below And it covers up the cars and the WallFlowers cd ended half an hour ago".

Mesmo sendo conhecida como a banda daquela ou daquela outra música, o Semisonic é bom no que faz: música pop. É claro que eles não são os superstars que propõe o baterista Jacob Slichter em seu livro "So You Wanna Be a Rock & Roll Star", onde ele conta a "ascensão, a glória máxima e o esquecimento da banda", mas podem divertir aqueles que gostam de música pop, mesmo que não consigam se lembrar do nome da banda.

domingo, novembro 21, 2004

Esta semana:

Silverchair - Freak Show (1997)



A síndrome do segundo disco é mundialmente conhecida. E, principalmente, inevitável, pois mesmo os hoje grandes um dia passaram por ela - um pensamento óbvio, por isso verdadeiro. As conseqüências são bem claras: a) ou o segundo disco é tão bom quanto ou melhor do que o primeiro, ou b) o segundo disco é pior do que o primeiro e aí a coisa fica difícil, ou c) a coisa continua na mesma, sem grandes mudanças. No caso de Freak Show, segundo disco do Silverchair, podemos enquadrá-lo no caso "a". Ou melhor, se aproxima mais do item "a", mas tem também um pé no "c".

Como já escrito aqui no Maquinário, Frogstomp - o primeiro disco da banda - nasceu em meio a efervescência grunge, logo, foi, até certo ponto, bem aceito pelo público. Acontece que quando Freak Show foi lançado o grunge já dava sinais de cansaço, e as bandas de Seatlle davam espaço ao novo mercado fonográfico das "boybands". Então, partindo aí, a aceitação de Freak Show não seria facilitada pelo momento em que estava sendo lançado. Tarefa difícil para uma banda que lançou seu primeiro disco com integrantes numa média de idade de quinze anos, vencedora de um concurso feito por uma rádio.

Acontece que mesmo com esses possíveis empecilhos, em fevereiro de 1997 chegou Freak Show, e a prova do segundo disco foi completada pelo Silverchair com louvor. Freak Show mantêm o peso de Frogstomp, mas vai mais além. Melodias mais complexas, arranjos idem, e aquela ingenuidade vista como parte integrante de Frogstomp dá lugar a um experimentalismo que em nenhum momento foi possível prever para uma banda como o Silverchair de 1995.

Logo de começo encontramos as músicas "Slave" e "Freak" provando que o peso de Frogstomp ainda faz parte do som da banda, mas com um refinamento maior; seguindo o peso dessas, temos a nirvanística "Lie to me", "Roses" e "The closing". Entretanto, há músicas com uma levada mais pop como "Abuse me" - primeiro single do disco -,"No association", "The door", "Pop song for us rejects" e "Nobody came", além das baladas "Cemetery" e "Petrol & Chlorine", ambas muito bem elaboradas, provando aqui que a ingenuidade musical de Frogstomp agora dá lugar a novas caminhos na composição da banda.

É claro, todas aquelas influências do primeiro disco ainda estão nesse: Nirvana ("Lie to me"), Helmet ("Slave"), Smashing Pumpkins ("Cemetery"), mas agora a coisa começa a mudar de figura. É a partir de Freak Show que o Silverchair começa a definir seu som de maneira original. E já aqui, no segundo disco da banda, temos uma boa amostra daquele que seria um dos melhores vocalistas do fim da década de noventa. Além disso, é aqui que começa a metamorfose pela qual passou o Silverchair, quer gostem, quer não.

sexta-feira, novembro 19, 2004

Vem aí:


domingo, novembro 14, 2004

Esta semana:

Makazumba - Pequenos atos (2004)



O punk é, por excelência, um movimento de protesto, que demonstra inquietações em relação ao mundo prático. E como movimento acaba se utilizando da arte como instrumento de conscientização. Todo tipo de arte é válida para tal fim, entretanto, a música é normalmente a mais escolhida, devido não só a sua maior difusão, mas principalmente a sua aceitação de uma maneira geral. Por isso, é quase impossível separar o punk da música, tamanha foi a apropriação da arte musical pelos punks. É nessa trilha que anda a banda Makazumba.

Apoiados no som que transita por momentos de extremo peso a melodias calmas e trabalhadas conhecido como Emo-core, Guilherme (Vocal - Guitarra), Silvio (Guitarra – Backvocal's), Humberto (Baixo - Backvocal's) e Hit's (Bateria) se utilizam da arte para difundir ideais, e talvez essa seja a principal característica da banda, em detrimento a tantas outras que falam muito, mas não tem nada a dizer.

Vegetarianos confessos, o Makazumba canta também a "revolução pessoal, o repúdio a preconceitos de toda natureza, pacifismo e a não idolatração de símbolos e bandeiras" nesse primeiro CD, lançado em Julho desse ano. "Pequenos atos" foi uma produção caseira, que registrou cinco canções do grupo que, mesmo independente, tem arrastado a seus shows muitas pessoas que não só admiram a banda ou a proposta, mas que também sabem todas as letras de cor. E cá entre nós, isso não é pouca coisa quando falamos de uma banda de punk, independente, com uma demo lançada ainda esse ano.

De certa maneira, as músicas de "Pequenos Atos" mostram exatamente essa tendência Emo-core da banda. Em faixas como "Chamas" e "Inocência" vemos uma banda pesada, que lança mão não só de guitarras distorcidas, mas também de vocais gritados, berros e afins. Seria o "Core" do "Emo-core". Entretanto, em faixas como "Colinas", "Coma" e "Não há mais perdão" os arranjos mais trabalhados, as dobras de vocais e a cadência mais diversificada das músicas denunciam um Makazumba mas "Emo", por assim dizer. É claro, a produção caseira não consegue trazer o peso do som do Makazumba - assim como também não consegue destacar como deveria as partes detalhadas da música -, mas dá uma boa idéia do que é o som da banda.

Nas letras, o Makazumba reafirma o ativismo encontrado no site ou nas entrevistas. "Colinas", por exemplo, propõe um olhar a si mesmo, assim como em "Coma", onde o mote é a revolução pessoal; o vegetarianismo fica claro na faixa "Inocência", onde a variação musical pesado/leve faz o fundo ideal à letra, chamando atenção ao que é cantado; e ainda há espaço para uma canção onde o refrão é "Não há mais perdão/Por que você se foi?".

Segundo consta, o Makazumba pretende dar uma folga nos shows esse fim de ano, a fim de produzir o segundo CD. Mas para quem quiser conhecer melhor a banda, é só clicar aqui. Uma dica: assista ao clipe da música "Inocência" até o fim, e repense seus conceitos, mesmo que não os mude.

domingo, novembro 07, 2004

Esta semana:

Mutantes e Bizarros - Louco pelo brilho do metal (2004)



Ouvir ao primeiro CD da banda Mutantes e Bizarros é se deparar não só como o rock'n roll ou o blues, mas como uma mistura do velho com o novo. Difícil imaginar um gênero como o rock'n roll misturado a elementos mais novos - talvez até soe como uma idéia de um alquimista da música procurando novas misturas, etc -, mas não impossível. E verdade seja dita, é complicado acreditar que isso possa dar certo. Não duvidando da capacidade dessa ou de qualquer outra banda, mas sim de imaginar o rock como um elemento capaz de se misturar. Principalmente ao novo.

Acontece que foi exatamente dessa mistura que nasceu "Louco pelo brilho do metal", o primeiro disco do Mutantes e Bizarros, lançado em setembro desse ano. A primeira coisa que nos chama a atenção ao ouvir o disco é que a influência mais clara da banda é o rock setentista. Inegável nos riffs, nas cadências, na temática das letras, no estilo da banda. Dessa escola há "Cara normal", música que abre o disco, "Essa noite eu vou dar problema", "Mutantes e bizarros", "Funk de uma nota só" e "Quero briga", ficando claro nessas duas últimas a influência mais do que escancarada de Jimi Hendrix.

Entretanto, pouco depois da metade do disco uma pulga pula atrás da orelha: Sim, aquilo é rock'n roll, mas tem alguma coisa estranha ali. Pois é, essa coisa estranha é exatamente a mistura do novo com o velho a qual me referi no primeiro parágrafo. O rock'n roll, digamos, clássico, parecia até então resistente a misturas, seguindo padrões rígidos e uma cartilha sem muitas exceções. Entretanto, os Mutantes e Bizarros conseguiram executar essa mistura de tal maneira que soa estranho porque soa bem.

A melhor explicação que eu poderia dar à proposição de "soa estranho porque soa bem" seria indicar a faixa "No escuro", onde essa mistura fica mais clara. Todavia, se ouvirmos com cuidado todo o disco, perceberemos que há elementos novos na velha fórmula rock'n roll em cada faixa. São detalhes, é verdade, mas caso eles não estivessem ali teríamos no rádio apenas mais um disco de rock como tantos outros que passam por nossos rádios.

Uma coisa é fato, se você gostar do "bom e velho rock'n roll", tiver pelo menos dois discos do Marcelo Nova, e estiver aberto a novidades, não vejo motivos para você não ter esse CD em casa. E mesmo que você não se enquadre em nada do que disse, não há razão alguma para não conhecer o trabalho do Mutantes e Bizarros. Só um adiantamento, a banda é formada por Flávio Marcondes (guitarra e vocal), Paulo Bressan (baixo e backing vocal) e Daniel Bergatin (bateria). Para saber mais é só clicar aqui. E pare de perder tempo.

quarta-feira, novembro 03, 2004

Especial - Série Cinema

Stevie Wonder - Woman in red (1984 - trilha sonora)



No filme "Alta Fidelidade", Barry (Jack Black) propõe um de seus muitos questionamentos musicais: "Cinco maiores crimes musicais perpetrados por Stevie Wonder no anos 80 e 90. Subpergunta: É mesmo injusto criticar um ex-grande artista por seus pecados recentes?”

Minha resposta é sim. E acredito que a prova mais contundente para isso é a trilha sonora de Woman in red, de 1984, feita por Stevie Wonder. É verdade, a década de oitenta e noventa está longe das duas antecedentes para Wonder, mas ainda assim não podemos esquecer que o artista em questão é Stevie Wonder, e sendo humano como nós, está suscetível a cometer erros. E acertos com essa trilha sonora, é claro. Por isso criticá-lo por seus pecados é injusto.

"Woman in Red" foi um filme que marcou época. Não entrarei em muitos detalhes sobre o filme em si, pois no WideScreen está toda a análise sobre a película, muito melhor explorada do que eu poderia fazer. Então, sobre o filme, clique aqui. Acontece que para um filme marcar época como "Woman in red" marcou é preciso não só de bons atores, diretores, história, etc, mas uma boa trilha sonora também, pois é ela quem marca os momentos mais importantes do filme, assim como também preenche os espaços onde fala ou imagem alguma conseguiria preencher.

A trilha feita por Wonder acerta em todos os quesitos acima, e vai além. É na trilha desse filme que está "I just called to say I love", o single de maior vendagem na carreira do músico até hoje, e vencedor do Oscar e do Globo de Ouro do ano de 1985. Amada pelos fãs, trucidada pela crítica, "I just called to say I love" foi uma música que marcou época - e levantou controvérsias quanto ao Oscar, pois para concorrer ao prêmio, a música deve ser composta para o filme, o que não foi exatamente o caso de "I just call..." Mas é claro, embora tenha no disco um dos maiores hits da década de oitenta, "Woman in red" - a trilha - conta ainda com outras sete músicas, talvez não tão conhecidas como "I just call...", mas que não devem nada a companheira de álbum.

Por exemplo, "It's you" é uma pequena demonstração do que pode acontecer quando Stevie Wonder faz uma parceria com alguém como Dionne Warwick, aquela que transita facilmente entre o jazz de Ella Fitzgerald e o soul de Aretha Franklin; outra música que vale destaque é "Moments aren't moments" com Dionne Warwick, só que dessa vez solo. A música chega a ser delicada de tão simples, assim como a voz de Dionne, quase sussurrada, que chega a arrepiar.

Talvez um dos pontos de baixa do disco seja "It's more than you", canção instrumental de pouco mais de três minutos que, pelo menos ao álbum, não acrescenta muita coisa. E mesmo "I just call..." poderia entrar aqui, pois devido a seu estrondoso sucesso acabou por ofuscar não só o restante do disco, mas também a carreira de Wonder, chegando a reduzir, para alguns, sua obra àquela música.

Então, aí está, não acredito que seja justo criticar Stevie Wonder por seus pecados nas décadas de 80 e 90. Há pecados, sim, como também há acertos. Mas é claro, na minha lista top 5 de melhores discos de Stevie Wonder, esse não entraria.